15 de out. de 2012

Prefacio: Música boa x Música ruim

Esse é um tema muito debatido por todos os melômanos, entretanto alcançamos pouca conclusão acerca do mesmo, para muitos se trata de abstrações que variam de pessoa para pessoa. Na verdade é muito difícil manter uma discussão com qualquer fã de música a respeito desse tema, devido as opiniões divergentes e a falta de formalidade e educação dos fãs, nesse cenário também entra as falácias e preconceitos.

Para se avaliar o conteúdo e a qualidade de uma música, que métodos usamos?  quanto tempo dedicamos a degustação de uma música? é necessário conhecer técnica? Os métodos geralmente se baseiam na experiência e gosto pessoal da pessoa que aprecia a música, alguns acompanham a letra e outros escutam atentamente os mínimos detalhes, tentando captar as minucias do som. A quem gosta ainda de conhecer sobre a técnica que envolve as música que ele aprecia, isso ao meu ver é bastante interessante, pois penso que conhecimento nunca é demais, visto que o mesmo é infinito, e nunca alcançaremos sequer a cauda deste.

Entretanto se prender a técnica para analisar uma música é perder muitos detalhes, como por exemplo:


"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
Olavo Bilac

Olavo Bilac foi um escritor parnasiano, estilo famoso pela grande técnica dos seus escritores, muitos textos do gênero são pura pirotecnia e deliciam os amantes da língua portuguesa formal até os ossos (o que não é o meu caso). Se olharmos apenas para a técnica que cerca o poema, realmente teremos um grande material para falar, por causa das rimas ricas em esquema: a/b/a/b e principalmente devido ao formato de soneto alexandrino, um dos mais dificieis de todos.

Entretanto uma análise obsessivamente técnica ignora por completo o lirismo desse poema, que ao meu ver consiste na verdadeira qualidade do mesmo, pois de poesias que primam pela maestria técnica, o parnasianismo está cheio. Se você não gosta de poesia ou tem dificuldade, ou melhor ainda, não entendeu o motivo do autor ter usado um poema para falar de música, lhes digo que usei por causa de uma música do grupo Kid Abelha e da proximidade que a poesia tem com a música.


Aconselho que acompanhem a música lendo o poema acima, a poesia sempre me parece mais clara quando declamada. Creio também que a Paula Toller explicite a faceta mais lírica da poesia. Vamos a outra exemplificação:

A Morte de Marat do pintor francês, Jacques Louis David, é um dos meus quadros preferidos, considero inclusive uma das mais belas obras de arte da história. A ilustração ao lado é só para você ter noção, pois a mesma está meio distorcida, escondendo os vários traços de beleza que vejo na obra.

Apesar de conhecer muita coisa acerca do quadro, pouco sei a respeito da técnica, que nesse caso em especial tem papel secundário, não adianta muita coisa saber a técnica, pois a intenção do pintor não era a exibição técnica.

Aconselho vocês a assistirem o documentário, O poder da arte, para que vocês conheçam mais acerca do verdadeiro valor histórico e psicológico dessa obra, além de pode-la apreciar melhor e descobrir porque eu afirmo que conhecer a técnica nesse caso não é tão importante.

As artes na minha visão possuem um vinculo entre si, logo é muito difícil dissociar uma da outra, em alguns caso elas até se unem, como por exemplo: os musicais (Cinema + Música), ópera (Teatro+Literatura +Música), poemas sinfônicos (Literatura+Música), livros ilustrados (Artes Visuais + Literatura) só para citar uns exemplos.

Como exemplificado, uma pessoa pode gostar de uma coisa sem conhecer nada acerca de técnica e nem sempre o conhecimento dessa é essencial para a fruição da obra. Com isso não viso desmerecer o conhecimento técnico, pois mesmo afirmando isso, busco sempre compreender a técnica empregada pelos meus artistas favoritos, visando conhecer mais ainda acerca dos mesmo, pois é isso que diferencia melômanos de ouvintes de música normais.

O tempo dedicado a apreciação de uma obra já foi tema de alguns artigos do blog, e voltarei nesse tema no decorrer do artigo, mas agora não vejo necessidade de aborda-lo. Mas voltando ao tema central do artigo, é possível definir música boa e ruim? Creio que podemos classificar músicas ruins, mas em relação a música boa, o poço é ainda mais fundo.

Falaremos mais disso no decorrer dos artigos, até mais.

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